sexta-feira, 8 de março de 2019

Salto










Saltei sem saber o que iria encontrar
Cansada da monotonia
Exausta de me embalar
Sozinha

Numa busca por um sentido qualquer
Foragida do medo
Quis me entender
Perdida

Na vontade de ter vontades
Deparei-me com mares
Das águas violentas, emergi
Desiludida

Corpo frio ao vento
Sopros de descontentamento
Costurando o chão
Caí

Para nunca mais voltar.

Milena De Andrade

domingo, 29 de abril de 2018

Sorriso a brotar



É depois da tempestade que vem a calmaria
A ressaca do mar levou a agonia
E para cada onda entreguei o que me impedia
De acreditar, de sorrir e querer viver mais um dia

Não nego a dificuldade que é lutar
A tristeza insiste em habitar
Todos os dias me vejo assombrar
E os pensamentos a perturbar

Mas não pretendo desistir
Conquistarei o sorrir
Viverei para sempre feliz
Ao lados dos que me amam assim

Vejo esperança
Mudança
Confiança
E o sorriso de criança a brotar



Milena De Andrade


quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Confie em você - Retalho Motivacional

Imagens da Internet
Eu sei, talvez você esteja cansado de tentar colocar ordem em sua vida e não conseguir. Luta tanto, corre atrás, faz a sua parte, chega perto e, no final, perde o alvo. O mais triste de tudo isso é que você já desistiu de muitos alvos anteriormente porque achou que o problema estava neles, concluiu estar sonhando alto demais e partiu para novos objetivos. O ciclo parece não ter fim e a sensação de viver numa eterna angústia é presente em sua vida. Você se pergunta: Por que isso não passa? Por que tudo é tão difícil? A resposta é "você".

O problema não está nem nunca estará em seus alvos ou objetivos, mas no que você está fazendo para conquistá-los. Não importa o quanto mude seus planos, se a execução deles não mudar também, o resultado será sempre o mesmo - fracasso. Não há problema em tentar algo várias vezes sem sucesso e continuar tentando, se a cada derrota o seu comportamento mudar. Até mesmo com as quedas, nós aprendemos algo, e isso acontece a partir do momento em que refletimos sobre as falhas cometidas em busca de um plano "perfeito".

Não desista, siga tentando! Não tenha medo do fracasso, mas tema o cansaço e evite-o a qualquer custo. Não faz mal tentar e não conseguir, mas faz um grande bem tentar até vencer. Confie em você!


Milena De Andrade

Carta ao leitor:

Olá! É novo por aqui? Eu me chamo Milena De Andrade, e este é meu blog de poemas, pensamentos e crônicas. Importante falar que no Meu Cantinho existe também uma coletânea de obras de músicos e poetas do qual sou fã, porém estas postagens estão mais raras atualmente. Começa hoje, no entanto, um novo projeto, chamado "Retalho Motivacional", no qual todas as quartas-feiras postarei um texto autoral com o intuito de motivar meus leitores. Espero que você, leitor, aproveite bastante este novo conteúdo e que de alguma forma ele possa acrescentar bons frutos em sua vida.

Com carinho, a autora,

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Maltratado



Pudera eu controlar os sentimentos que habitam dentro de mim
Pelo menos se eu pudesse dominá-los, apaziguá-los e filtrá-los...

São como um veneno, o qual o meu corpo já se acostumou
Mas aos outros, é fatal; letalidade sem pudor

Não me toque, cuidado, afasta-se. É só o que eu posso dizer
Não é minha mania, não é medo ou opção afastar-me de você

É medida de segurança, prevenção, talvez a minha única escolha
Sigo, não olho para trás, por mais que me doa

Sou o resultado de um passado maltratado
Farei de tudo para não envenená-lo

A solução é um adeus.

Milena De Andrade

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A inspiração dos pássaros


Encanta-me o voar dos pássaros
Seus aleatórios caminhos
A incerteza de seus destinos
O conforto de seus ninhos

Eu com minha vida calculada
Pensada, refletida, amargurada
Cuidadosamente planejada
Desastrosamente fracassada

Fico a olhar os pássaros
A suspirar seus encantos
Desejar o sucesso de seus cantos
Na esperança do encontro

Entre olhar o desenho feito no céu
Em que as asas são o pincel
Caminho o aleatório dos pássaros
Em busca do meu encontro sonhado


Milena De Andrade

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Memórias do Colégio Bom Conselho




Por Milena de Andrade

Sempre tive medo do esquecimento. Desapegar do passado não é uma das minhas habilidades. Passar por algo que marcou determinada fase da minha vida é uma experiência nostálgica sobrenatural, é um fenômeno capaz de transportar-me para o passado em questão de segundos. Imagens em preto e branco, o tempo volta, a história se repete – uma experiência semelhante ao flash temporal dos filmes. É assim quando passo por este prédio, o Asylo das Orphas, que funcionou de 1877 a 1935.
O prédio ainda existe, no bairro de Bebedouro, em Maceió. As suas contas não vão bater: eu não sou da década de 30, tampouco do século passado. O Asylo das Orphas faz parte da Sociedade Nossa Senhora do Bom Conselho e, na época, existiam o extinto Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho (CBC), o Asylo, o Convento e, diziam os mais antigos, que também fora um abrigo para refugiados da guerra. Minha vivência com este prédio antigo, que se confunde com a história de Maceió, é como aluna do Colégio Bom Conselho. Naquele tempo, anos 90, ele ainda era gerido pelas freiras da Sociedade.
O prédio do CBC é um dos mais antigos da capital alagoana, sua arquitetura é belíssima, com toques de história e mistério. Ele tem umas espécies de passagens secretas e marcas estranhas que sempre serviram de alimento para a mais fértil imaginação. Haja imaginação! Mas essa imaginação não acontecia por acaso, vez ou outra, passeando normalmente pelos espaços, os alunos encontravam parque secreto desativado, séries de banheiros escondidos por trás de muros altíssimos, passagens secretas por trás do palco, lápides no altar da capela. Lembro-me do palco de piso de madeira, no começo do pátio, com duas escadas laterais. Os meninos levados ( inclusive eu) conseguiram entrar por umas tábuas quebradas embaixo do palco e lá vimos uma parede velha e com umas brechas. Obviamente, brechamos e vimos um parque infantil velho e desativado, parecia um parque fantasma. Achamos a série de banheiros por trás de um paredão e parecia uma espécie de vestiário. Disseram para mim que era da época do abrigo de refugiados. As freiras não tocavam no assunto e os mistérios só aumentavam, as histórias seguiam o mesmo compasso. Tinha um laboratório de ciências sinistro com esqueletos e vidros com partes do corpo humano e fetos de bebês mergulhados no formol – era sensação entre os alunos, mas não podíamos chegar perto. Reza a lenda que o esqueleto foi de um dos professores da escola que havia morrido, mas essa história eu sei que é mentira - eu acho.
Prédio enorme, repleto de encontros e desencontros que eu não quero esquecer. Éramos recebidos por um belíssimo jardim. As flores formavam o nome Bom Conselho. Sobre as primeiras salas de aula, era possível ler as frases de Legião Urbana e Pitágoras "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã" e "Educai as crianças, para que não seja necessário punir os homens". Lindo. Mas havia umas construções estranhas dentro do CBC, que não faziam sentido algum, a exemplo de um espaço que parecia uma jaula gigante. Era tudo muito lindo e mais lindo ainda era imaginar vidas passadas que ocuparam o CBC antes de nós. Depois da quadra, tinham árvores altas e bancos e por trás deles havia o mangue, um privilégio para poucos. A quadra foi palco para torneios inesquecíveis, grandes competições. As melhores equipes de vôlei e handebol de Alagoas eram do CBC. Assisti a muitos jogos sentada na escadaria/arquibancada para torcer pelo Bom Conselho.
Havia também um grande refeitório que também foi palco de competição, mas desta vez uma competição mais violenta, que exigia um pouco mais dos estudantes. O refeitório e suas guerras de comida, vencer significava sair com a farda intacta, sem manchas de suco ou achocolatado, e os cabelos não podiam trazer sinais do cardápio macarrão, arroz e carne ou sopa de letrinhas. Era muito difícil, mas lembro-me de ter erguido a taça algumas vezes. Bom, a comida era muito boa, na época das freiras.
O extinto Colégio Bom Conselho já foi o melhor do nosso estado, as freiras do Asylo comandavam tudo. Impecável da farda ao ensino, pais e mães dormiam em filas durante a madrugada para garantir uma vaga.
Entrávamos em ordem assim que chegávamos para rezar e receber nossos professores. Diariamente, dos alto falantes de dentro das salas de aula, ouvíamos as irmãs fazendo suas preces e nos chamando para o hasteamento da bandeira e para cantar os hinos do Brasil, de Alagoas, de Maceió, da Bandeira e até da Marinha. Nele estudaram atletas, políticos, artistas, grandes empresários, gente famosa de Alagoas e gente de fora.
Eu cheguei para estudar no CBC em seus últimos anos de vida, segurei sua mão no suspiro final. Fechei os enormes e pesados portões que permitiram a partida das freiras e fui os olhos tristes e afogados que viram pela última vez aqueles hábitos cinzas. Vivi o fim do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho e o nascimento da Escola Estadual Nossa Senhora do Bom Conselho. Vi a chegada do poder público com todo seu poder de destruição de sonhos. Vi um império sendo destruído e nada pude fazer. Hoje, eu me limito a olhá-lo por fora e a receber toda carga de nostalgia que ele me proporciona. Busco coragem para ultrapassar esses muros novamente. Sei que será possível ver e ouvir o passado porque o CBC sempre foi feito de mistérios. Assustadoramente, sempre.


Homenagem ao eterno Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho e a todos os seus alunos, professores, órfãs, freiras, padres, jardineiros, todos que têm uma história do CBC para contar.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Crônica - Manhã de concurso público

Era cedo, todos de pé. O relógio marcava 8h da manhã, e os lençóis ainda preservavam o calor daqueles que já formavam uma fila, que abraçara o prédio do local de prova.
Os minutos pareciam não passar para os adiantados. A fila já formada, com suas silhuetas, foi desfeita em segundos pelos já exaustos "concurseiros" à espera da abertura dos portões, que sentaram ali mesmo no chão sob sol forte.
Aos poucos, mais candidatos chegavam, e em suas faces a estampa da ansiedade. Pudera, quem diria que o futuro poderia estar num papel, descrito em quarenta questões? Esta foi a definição dada por uma jovem à amiga, ainda na fila, que desabafou o fato de já disputar o décimo concurso público, sem sucesso até hoje.
O barulho de portão velho abrindo ecoou feito música aos ouvidos dos suados e impacientes.
"Entrem devagar e mostrem o documento de identificação mais à frente", gritou o fiscal de prova.
A fila foi refeita, ganhou vida e seguiu. O prédio foi tomado por gente de todo tipo, mas gente e gente quente, que fazia o cartão de inscrição de leque.
A ansiedade parecia ter calado os concurseiros, de modo a ser mais fácil ouvir pensamentos que vozes naquele lugar.
Dentro da sala, alguém resolve quebrar o silêncio. "Ei! Ô, menina, que horas pode entregar a prova e sair?", perguntou uma senhora, no auge dos seus 50 anos.
A fiscal de sala respondeu: "A prova começa às 9h30, mas a saída só é permitida após o meio dia."
"Oi? Eu vou ter de esperar tudo isso para ir embora? E, se eu terminar às 10h30, vou ficar aqui sentada olhando pra sua cara nesse frio da peste?", rebateu a mulher, indicando insatisfação com a baixa temperatura provocada pelo ar condicionado.
A fiscal, em tom de ironia, respondeu mais uma vez: "Olhe, senhora, eu não sou tão bonita, admito, herdei os traços de papai, então pode olhar para o quadro, se preferir".
Um coral de risos dá cor à sala.
Aparentemente chateada, a "reclamona" gritou: "Que regra besta! Tinha que ser coisa de alagoano!".
Pronto, ofendeu os bestas, digo, segundo ela.
E uma mulher de lenço estampado resolveu intrometer-se: "Minha senhora, com todo respeito, todo concurso tem suas regras, e duas horas de prova é o mínimo delas".
"Tá, tá! Eu não quero saber de conversa! Deixe pra lá e fique na sua. Oxi!", disse a senhora ranzinza, com toda ignorância que a coube.
"Chega, gente. Vamos concentrar, pelo amor de Deus", pediu a fiscal.

O preto e branco voltou.

Milena De Andrade